O que você aprendeu nos textos anteriores…
O medo do sucesso é um fenômeno inconsciente e autossabotador
Ocorre quando a pessoa, ao se aproximar de suas metas, ativa comportamentos que impedem o próprio progresso, como forma de evitar ansiedade ou mudança.O "Upper Limit Problem" e o termostato interno do sucesso
Segundo Hendricks, cada pessoa possui um limite inconsciente para o quanto de sucesso ou felicidade se permite, e ultrapassá-lo gera autossabotagem.A resistência interna como barreira ao crescimento pessoal
É uma força psicológica que se intensifica diante de ações significativas, criando distrações ou bloqueios para evitar o desconforto do crescimento.O medo do sucesso está enraizado em crenças e experiências precoces
Mensagens recebidas na infância sobre merecimento, inveja ou punição moldam associações negativas com o sucesso na vida adulta.Superar o medo de dar certo exige ações conscientes e autoconhecimento
É necessário observar padrões sabotadores, reavaliar crenças limitantes e desenvolver tolerância emocional ao progresso.A desconexão entre competência real e crenças de autoeficácia
Mesmo pessoas altamente capazes podem duvidar de sua habilidade de realizar tarefas, prejudicando sua performance por baixa autoeficácia percebida.Crenças centrais disfuncionais e a tríade cognitiva negativa
Crenças como "não sou bom o suficiente" ou "não mereço sucesso" distorcem a percepção de si, do mundo e do futuro, mantendo padrões autodestrutivos.Esquemas precoces desadaptativos e evitação experiencial
Esquemas como autossacrifício ou padrões inflexíveis levam a evitar situações que envolvem sucesso, por medo de dor emocional, responsabilidade ou exposição.Desamparo aprendido e o medo do futuro sucesso
Experiências de fracasso ou punição anteriores levam o indivíduo a acreditar que, mesmo quando pode ter sucesso, ele não terá controle ou será prejudicado.Narrativas identitárias e pressão social
O crescimento pessoal pode entrar em conflito com a imagem que a pessoa construiu de si mesma, ou com papéis sociais que ela teme abandonar.Complexo de Jonas: o medo da própria grandeza
Segundo Maslow, muitos fogem do próprio potencial por temerem a responsabilidade, a mudança e a ruptura que o sucesso traz.Ansiedade existencial e o peso da liberdade
Rollo May argumenta que crescer implica assumir a responsabilidade pela própria vida, o que gera ansiedade por não haver mais desculpas externas.Condicionamento social e observacional
A observação de outras pessoas sendo punidas por se destacarem pode levar à crença de que o sucesso gera rejeição ou sofrimento.Autossabotagem como forma de coerência com crenças e identidade antigas
Sabotar-se pode ser uma forma inconsciente de manter a coerência com a autoimagem construída a partir de experiências de limitação e fracasso.Superação como coragem existencial e aceitação mindful
Vencer o medo de dar certo exige coragem para aceitar a ansiedade do crescimento e desenvolver presença consciente diante da própria expansão.
Sessão de terapia
INFORMAÇÕES DO CASO
Cliente: Ana Carolina, 34 anos, arquiteta
Terapeuta: Dr. Roberto
Abordagem: Terapia Cognitivo-Comportamental
Sessão: 8ª sessão (de um processo em andamento)
Contexto da Sessão:
Ana Carolina procurou terapia há dois meses relatando "autossabotagem profissional". Recentemente foi promovida a coordenadora de projetos em um grande escritório de arquitetura, mas vem apresentando sintomas de ansiedade, procrastinação e dúvidas sobre sua competência. Na sessão anterior, identificamos padrões de medo do sucesso. Hoje vamos trabalhar uma situação específica usando técnicas de reestruturação cognitiva.
TRANSCRIÇÃO DA SESSÃO
ACOLHIMENTO E CHECK-IN (5 minutos)
Psicólogo: Boa tarde, Ana Carolina. Como você está se sentindo hoje? Como foi sua semana desde nosso último encontro?
Ana Carolina: (suspira, mexe nas mãos) Oi, Dr. Roberto. Não sei... confusa, eu diria. Teve uma coisa que aconteceu no trabalho que me deixou... sei lá, estranha.
Psicólogo: Estranha como? Pode me contar o que aconteceu?
Ana Carolina: Na segunda-feira o diretor me chamou na sala dele. Pensei que era bronca, sabe? Meu coração já disparou. Mas ele queria me parabenizar pelo projeto do complexo residencial. Disse que foi excepcional, que superou as expectativas dos clientes e que eles me pediram especificamente para o próximo projeto.
Psicólogo: (observando linguagem corporal) Percebo que você parece desconfortável ao contar isso. Como você se sentiu quando ele disse essas coisas?
Ana Carolina: (evita contato visual) É exatamente isso que é estranho. Eu deveria estar feliz, né? Mas senti uma ansiedade horrível. Tipo... um aperto no peito. E depois ficei pensando o tempo todo que ele deve estar exagerando, que vai descobrir que eu não sou tão boa assim.
Aqui fica nitido a importancia de pararmos e percebermos como reagimos sobre as situações de sucesso que almejamos, perceber essas reações pode revelar crenças, comportamentos e até emoções para que possamos aprender a lidar com elas.
EXPLORAÇÃO DA SITUAÇÃO (10 minutos)
Psicólogo: Vamos focar nesse momento específico. Quando o diretor estava te elogiando, que pensamentos passaram pela sua cabeça?
Ana Carolina: (pausa longa) Primeiro pensei: "Nossa, que bom". Mas durou tipo dois segundos. Depois veio um monte de coisa... "Ele não conhece meu trabalho de verdade", "Se ele soubesse como eu fico em pânico com prazos...", "O próximo projeto vai ser um desastre e ele vai ver quem eu realmente sou".
Psicólogo: Interessante. Você consegue identificar algum padrão nesses pensamentos?
Ana Carolina: (reflexiva) São todos... negativos? Tipo, eu não consigo aceitar que talvez eu seja boa mesmo no que faço.
Psicólogo: Exato. E fisicamente, além do aperto no peito, o que mais você sentiu?
Ana Carolina: Mãos suadas, vontade de sair correndo da sala. Depois, durante a semana, tive insônia duas noites. Ficava imaginando cenários de fracasso no próximo projeto.
Psicólogo: Ana, lembra que nas últimas sessões identificamos esse padrão? Como você chamaria o que aconteceu na sala do diretor?
Ana Carolina: (hesita) O... o medo do sucesso?
Psicólogo: Isso mesmo. Você recebeu reconhecimento genuíno por um trabalho excelente, mas sua mente interpretou isso como uma ameaça. Vamos entender melhor esse mecanismo?
Saber nomear emoções, crenças e até situações problematicas, nos ajuda a definir estratégias de resolução e enfrentamento. Sem a nomeação adequada, o processo de crescimento fica deturpado e muitas vezes ineficaz.
PSICOEDUCAÇÃO APLICADA (8 minutos)
Psicólogo: Ana, seu cérebro fez exatamente o que cérebros fazem: tentou te proteger. Mas proteger de quê?
Ana Carolina: Não sei... de decepcionar?
Psicólogo: Vamos investigar. Quando você era criança, como eram recebidas suas conquistas em casa?
Ana Carolina: (longa pausa, olhos marejados) Meu pai sempre encontrava um defeito. Se eu tirava 9, ele perguntava por que não foi 10. Se eu ganhava uma competição de desenho, ele dizia que na próxima seria mais difícil. Minha mãe... ela ficava feliz, mas sempre sussurrava para eu "não ficar convencida".
Psicólogo: (tom compassivo) Então uma parte de você aprendeu que reconhecimento pode ser perigoso. Pode trazer expectativas impossíveis ou críticas. É isso?
Ana Carolina: (chorando suavemente) É exatamente isso. Eu sinto que se eu aceitar que sou boa, vou ter que ser perfeita sempre. E eu sei que não sou.
Psicólogo: Isso faz muito sentido, Ana. Seu cérebro ainda está operando com as regras que aprendeu aos 8, 10 anos. Mas você tem 34 agora. Podemos ensinar a essa parte de você que é seguro ser reconhecida pelo seu talento real?
Ana Carolina: (limpa os olhos) Como?
O que faz com que muitas pessoas não cheguem ao sucesso? A compaixão, alguns vão até chamar de permissão - explicarei isso em outro vídeo lá no youtube - quando você se permite reconhecer suas vitórias, independente do seu passado, o seu “eu do presente” passa a acreditar mais no próprio futuro e a agir de maneira coerente com aquilo que você deseja e não com o que você evita.
REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA (15 minutos)
Psicólogo: Vamos trabalhar com aqueles pensamentos que você teve na sala do diretor. Primeiro: "Ele não conhece meu trabalho de verdade." Que evidências você tem de que isso é verdade?
Ana Carolina: Bem... ele só vê o resultado final, não vê como eu me desespero durante o processo.
Psicólogo: E que evidências você tem de que isso não é verdade?
Ana Carolina: (pensa) Ele trabalha há 20 anos no mercado. Já deve ter visto muito projeto ruim para saber reconhecer um bom. O cliente ficou satisfeito, isso é objetivamente mensurável. E... (pausa) eu realmente me dediquei muito a esse projeto.
Psicólogo: Perfeito. Agora vamos para: "Se ele soubesse como eu fico em pânico com prazos, não me elogiaria." Ana, você entrega seus projetos no prazo?
Ana Carolina: Sim, sempre.
Psicólogo: Então o "pânico" que você sente internamente não impede você de produzir trabalho de qualidade dentro do cronograma?
Ana Carolina: (surpresa) Não... nunca pensei assim. Na verdade, talvez a ansiedade até me faça ser mais cuidadosa, revisar mais vezes.
Psicólogo: Isso é uma perspectiva muito diferente, não é? E o último pensamento: "O próximo projeto vai ser um desastre." Que evidências concretas você tem disso?
Ana Carolina: (longa pausa) Nenhuma. Na verdade, nunca tive um projeto que foi um desastre real. Alguns foram mais difíceis, mas todos foram entregues e aprovados.
Psicólogo: Então, se fôssemos criar uma versão mais equilibrada desses pensamentos, como seria?
Ana Carolina: (concentrada) Talvez... "O diretor tem experiência para reconhecer um bom trabalho, e o meu foi objetivamente bem-sucedido." "Minha ansiedade durante o processo não impediu o resultado positivo." "Posso usar a experiência deste projeto para fazer o próximo ainda melhor."
Psicólogo: Excelente! Como você se sente repetindo esses pensamentos mais equilibrados?
Ana Carolina: Mais... calma. Menos esse aperto no peito.
A reestruturação serve para mudar a perspectiva que temos sobre as coisas, chamamos isso de ressignificação. Quando você muda a forma como interpreta as coisas, poderá também mudar a maneira como age diante delas. Pensamentos são, em partes, preditores de comportamentos.
TÉCNICA EXPERIENCIAL (8 minutos)
Psicólogo: Ana, vamos fazer um exercício. Quero que você feche os olhos e volte àquele momento na sala do diretor. Mas desta vez, quando ele te elogiar, quero que você respire fundo e pense: "Eu mereço este reconhecimento pelo meu trabalho dedicado."
Ana Carolina: (fecha os olhos, respiração profunda) Ok.
Psicólogo: Visualize a cena. Ele está te parabenizando. Em vez de pânico, você respira e aceita. Como seria responder: "Obrigada, trabalhei muito neste projeto e estou orgulhosa do resultado"?
Ana Carolina: (ainda de olhos fechados) É... estranho. Mas não ruim. Como se fosse mais... honesto.
Psicólogo: Agora imagine que essa aceitação não te transforma numa pessoa arrogante ou preguiçosa. Imagine que ela te dá energia para o próximo desafio. Como isso se sente?
Ana Carolina: (abre os olhos, surpresa) Na verdade, me sinto mais confiante. Como se eu pudesse confiar em mim mesma.
Psicólogo: Isso é neuroplasticidade em ação, Ana. Cada vez que você pratica uma resposta diferente, mesmo mentalmente, está criando novos caminhos neurais.
Na aula, que está ao fim deste texto, você terá um exercicio de hipnose justamente para trabalhar o medo do sucesso. Ao longo da aula você receberá as instruções para viver a experiência da melhor maneira.
EXPERIMENTO COMPORTAMENTAL (10 minutos)
Psicólogo: Quero propor um experimento para a próxima semana. Você está disposta?
Ana Carolina: Sim, o que é?
Psicólogo: Quando você receber qualquer tipo de reconhecimento - um elogio, um feedback positivo, qualquer coisa - quero que você experimente uma nova resposta. Em vez de minimizar ou se justificar, apenas diga: "Obrigada, fico feliz que tenha gostado."
Ana Carolina: (ansiosa) E se eu parecer convencida?
Psicólogo: Essa é exatamente a crença que estamos testando. Vamos descobrir o que realmente acontece quando você aceita reconhecimento graciosamente. Você pode anotar as reações das pessoas e como você se sente depois?
Ana Carolina: Posso tentar.
Psicólogo: E tem mais uma parte do experimento. Quero que você, conscientemente, reconheça um sucesso seu por dia. Pode ser pequeno - um desenho que ficou bom, uma apresentação que correu bem, um prazo que você cumpriu. E quero que você escreva: "Eu fiz isso bem por causa de..." e complete com suas habilidades reais.
Ana Carolina: (anota no celular) Aceitar elogios graciosamente e reconhecer um sucesso diário. Ok.
PREPARAÇÃO PARA DESAFIOS (5 minutos)
Psicólogo: Ana, quando você fizer esse experimento, é possível que a ansiedade apareça. Isso é normal. Lembra da técnica de respiração que praticamos?
Ana Carolina: A 4-7-8? Inspiro por 4, seguro por 7, solto por 8?
Psicólogo: Exata. E se a ansiedade for muito forte, qual é sua frase de emergência?
Ana Carolina: "Posso sentir ansiedade e ainda assim aceitar que sou competente."
Psicólogo: Perfeito. E se você precisar de apoio durante a semana, pode me mandar mensagem. Lembre-se: esse desconforto é seu cérebro se adaptando a uma nova realidade mais saudável.
Tarefas para casa são fundamentais para assimilação e consolidação do aprendizado na terapia. Permitir-se receber ou elaborar desafios semanais e até mesmo diários, facilitará sua evolução na terapia - como visto nesta sequência de textos (textos 34 até o 41).
ENCERRAMENTO E PLANO DA PRÓXIMA SESSÃO (4 minutos)
Psicólogo: Como você está se sentindo agora, no final da nossa conversa?
Ana Carolina: Mais... esperançosa? Ainda um pouco nervosa com o experimento, mas também curiosa para ver o que vai acontecer.
Psicólogo: Isso é uma atitude perfeita para mudança - nervosa mas curiosa. Na próxima sessão, vamos revisar como foi o experimento e trabalhar com situações mais desafiadoras, como apresentações e reuniões importantes. Te parece bom?
Ana Carolina: Sim. E Dr. Roberto... obrigada. Pela primeira vez em muito tempo sinto que talvez eu realmente mereça as coisas boas que acontecem comigo.
Psicólogo: Você sempre mereceu, Ana. Agora estamos só ajudando sua mente a aceitar isso. Nos vemos na próxima semana, mesmo horário?
Ana Carolina: Sim. Tchau, e obrigada mesmo.
ANOTAÇÕES PÓS-SESSÃO DO TERAPEUTA
Insight significativo: Ana conseguiu conectar padrões atuais com experiências da infância
Resposta emocional: Chorou ao falar dos pais, mas se recompôs rapidamente
Linguagem corporal: Gradual relaxamento durante a reestruturação cognitiva
Engajamento: Alta disposição para experimentos comportamentais
Técnicas Utilizadas:
Exploração socrática para identificar pensamentos automáticos
Psicoeducação sobre origens do medo do sucesso
Reestruturação cognitiva com questionamento de evidências
Visualização para treinar nova resposta emocional
Experimento comportamental para a próxima semana
Progressos Observados:
Identificação consciente do padrão de medo do sucesso
Conexão entre experiências passadas e comportamentos atuais
Disposição para questionar pensamentos automáticos
Desenvolvimento de pensamentos mais equilibrados
Comprometimento com mudança comportamental
Objetivos para Próxima Sessão:
Revisar resultados do experimento comportamental
Trabalhar situações de maior exposição (apresentações, reuniões)
Desenvolver estratégias para lidar com críticas construtivas
Explorar objetivos profissionais de longo prazo
Prognóstico:
Muito positivo. Ana demonstra alta capacidade de insight, motivação para mudança e responde bem às técnicas cognitivo-comportamentais. Expectativa de progressos significativos nas próximas 4-6 sessões.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Registro de Pensamentos para Ana Carolina
Para usar durante a semana
Situação Pensamento Automático Emoção (0-10) Evidência Contra Pensamento Equilibrado Nova Emoção (0-10)
Experimento da Semana: Aceitar Reconhecimento
Instruções:
Quando receber elogio ou reconhecimento, responder: "Obrigada, fico feliz que tenha gostado"
Não justificar, minimizar ou desviar
Observar e anotar reações das pessoas
Anotar como se sentiu após cada situação
Reconhecimento Diário de Sucessos
Formato: "Hoje eu fiz _____________ bem por causa da minha habilidade de _____________"
Exemplos:
"Hoje eu finalizei o desenho técnico bem por causa da minha atenção aos detalhes"
"Hoje eu conduzi a reunião bem por causa da minha capacidade de organização"
Técnica de Emergência: Respiração 4-7-8
Expire completamente
Inspire pelo nariz contando até 4
Segure a respiração contando até 7
Expire pela boca contando até 8
Repetir 4 ciclos
Frase de Apoio:
"Posso sentir ansiedade e ainda assim aceitar que sou competente"
Rafael Bianco - Psicólogo - CRP 01/17466
Só crescemos quando enfrentamos nossas inseguranças.
Para assistir a aula desta sequência, basta trocar para a assitura paga.
Lembre-se de dar a sua avaliação sobre o texto e a aula.
Obrigado pelo carinho e atenção.
Rafael, seu trabalho aqui tem sido incrível e de alta geração de valor para quem lê.
Muito obrigada pela generosidade.
As aulas são mais adequadas para profissionais da psicologia ou para pacientes? Ainda não encontrei onde fazer a mudança para assinatura paga. Pode me ajudar?