A origem do conceito
O conceito de "criança interior" tem suas raízes na psicologia e evoluiu ao longo do tempo através das contribuições de vários teóricos. Aqui está um breve histórico de como esse conceito surgiu e se desenvolveu:
Carl Jung e o Arquétipo da Criança: O conceito de criança interior pode ser traçado até o trabalho do psiquiatra suíço Carl Jung. Jung introduziu a ideia do "arquétipo da criança", uma das muitas imagens arquetípicas presentes no inconsciente coletivo. Segundo Jung, este arquétipo simboliza coisas como renovação, começo, salvação e até mesmo renascimento espiritual.
Donald Winnicott e o Verdadeiro Self: Donald Winnicott, um pediatra e psicanalista inglês, também contribuiu significativamente para o desenvolvimento do conceito. Ele falou sobre o "verdadeiro self", que se refere à sensação de se sentir real, viva e autêntica, que está mais presente durante a infância e que muitas vezes é perdida na vida adulta.
Eric Berne e a Análise Transacional: Eric Berne, o criador da Análise Transacional, introduziu a ideia de três estados do ego - Pai, Adulto e Criança. O estado da Criança em sua teoria se refere a comportamentos, pensamentos e sentimentos relembrados da infância.
John Bradshaw e a Popularização: Na década de 1980, John Bradshaw, um educador e terapeuta de família, popularizou o conceito de criança interior em seus livros e palestras. Ele destacou a importância de se reconectar com essa parte interna para curar traumas e encontrar a cura emocional.
Integração com Terapias Modernas: Com o tempo, o conceito de criança interior foi integrado a várias abordagens terapêuticas modernas, incluindo terapia cognitivo-comportamental, terapia centrada na pessoa e mindfulness, cada uma delas usando o conceito de formas ligeiramente diferentes para ajudar os indivíduos a enfrentar e curar problemas emocionais e psicológicos.
A ideia de criança interior acaba servindo muito mais como uma grande metafor aou narrativa para aprendermos a olhar para nós mesmos com mais compaixão, carinho e curiosidade, sem os julgamentos da vida adulta. Várias áreas ligamos ao desenvolvimento pessoal acabaram adotando o conceito, principalmente as áreas mais espirtuais e ligadas as pseudociências.
No contexto terapêutico, trabalhar com a criança interior pode ajudar a resolver traumas e questões emocionais profundas. A ideia é que, ao se reconectar com essa parte esquecida ou ignorada de si mesmo, uma pessoa pode começar a curar as feridas emocionais do passado e desenvolver uma relação mais saudável e integrada com suas emoções e experiências.
Além disso, a noção de criança interior também enfatiza a importância de manter uma perspectiva lúdica e aberta à vida, incentivando os adultos a redescobrir a alegria, a espontaneidade e a capacidade de se maravilhar que são tão naturais na infância. Isso pode levar a uma vida mais equilibrada e satisfatória, na qual a seriedade e responsabilidade da vida adulta são equilibradas com a alegria e simplicidade da infância. Mas será que esse conceito realmente se sustenta?
O mito da criança interior
O "mito da criança interior" é um conceito que tem ganhado popularidade em diversos campos, como psicologia, desenvolvimento pessoal e espiritualidade. No entanto, é importante entender que esse conceito, embora rico em significado simbólico e útil em certos contextos terapêuticos, não é uma entidade literal ou cientificamente comprovada.
O conceito da criança interior tem suas raízes na psicologia junguiana, onde é usado para representar a parte mais inocente, autêntica e original de um indivíduo. Essa "criança" simboliza a essência que permanece intacta e pura, apesar das experiências e traumas vivenciados ao longo da vida.
Aplicação Terapêutica
Na terapia, a "criança interior" é frequentemente usada como uma ferramenta para acessar memórias, sentimentos e traumas da infância que podem estar afetando o comportamento e o bem-estar emocional do adulto.É uma forma de regressão. Trabalhar com a criança interior pode ajudar as pessoas a compreender e curar essas partes de si mesmas que podem ter sido ignoradas ou feridas, é o que chamamos de terapia de partes.
Crítica ao Conceito
Falta de Base Científica: Do ponto de vista científico, a criança interior não é um conceito empiricamente fundamentado. É mais uma metáfora útil do que uma entidade concreta que pode ser identificada ou medida.
Risco de Simplificação: Alguns críticos argumentam que o conceito pode simplificar excessivamente problemas complexos, sugerindo que todos os desafios emocionais ou psicológicos do adulto podem ser resolvidos ao se reconectar com a criança interior.
Variação na Interpretação: A natureza metafórica da criança interior significa que ela pode ser interpretada de maneiras muito diferentes, dependendo do indivíduo ou do contexto terapêutico.
Apesar das críticas, a ideia de trabalhar a criança interior e outras narrativas internas, é uma ótima ferramenta de autoconhecimento e crescimento pessoal. Ele encoraja os adultos a redescobrirem qualidades como curiosidade, alegria e inocência, que muitas vezes são perdidas na vida adulta.
Em resumo, enquanto o mito da criança interior oferece uma abordagem valiosa para a exploração pessoal e a cura emocional, é crucial reconhecer suas limitações e usá-lo de maneira equilibrada e consciente. Ele serve como uma ponte entre as experiências da infância e o mundo emocional do adulto, mas não deve ser visto como uma solução única ou universal para questões complexas da psique humana.
Mas temos um problema que vai além da falta de cientificidade.
A infantilização do adulto
Entendimento do Conceito
A criança interior é uma metáfora para a parte mais inocente e original do ser, representando as experiências, emoções e memórias da infância. Embora possa ser uma ferramenta terapêutica valiosa, sua interpretação e aplicação incorretas podem ter implicações negativas.
Responsabilidade e Maturidade: Um dos principais argumentos é que a ênfase excessiva na criança interior pode levar os adultos a abdicarem da responsabilidade pelos seus comportamentos e escolhas. Isso pode criar uma tendência a culpar as experiências da infância por problemas ou desafios atuais, em vez de enfrentá-los com maturidade e responsabilidade adulta.
Autocomplacência: A ideia de nutrir a criança interior pode, em alguns casos, ser interpretada como uma licença para indulgência ou autocomplacência. Isso pode resultar em comportamentos imaturos ou na recusa em aceitar as realidades e desafios da vida adulta.
Dependência Emocional: Focar demais na criança interior pode também incentivar uma dependência emocional, onde os indivíduos buscam constantemente conforto e validação externa, em vez de desenvolver autoconfiança e resiliência.
Um dos maiores problemas que vejo em pessoas que buscam constantemente olhar para o passado, trabalhar suas narrativas com foco em regressão ou questões da infância é a falta de capacidade e habilidades em lidar com o futuro e o presente. São pessoas que ficam presas buscando A Causa para algo que não existe, ignorando que os problemas que enfrentamos são, inúmeras vezes, multifacetados.
Embora a ideia de criança interior não tenha validade cientifica, podemos utiliza-la para compreender como alguns eventos da nossa infância afetam os comportamentos atuais. Se usarmos o conceito e as ferramentas certas, podemos ter ótimos processos de mudança mas se usar de forma errada, criaremos uma pessoa ainda mais dependente e em alguns casos amargurada pelas carências que sofreu na infância.
Outra falha que percebemos na teoria da criança interior e sua utilização é a simplificação excessiva de questões mais compelxas, levando as pessoas a não compreenderem efetivamente como seus traumas foram elaborados ou até mesmo, perdem a capacidade de aprneder novas habilidades acreditando que só podem evoluir se resolver o passado. Tal atitude faz com que a pessoa venha a justificar suas atitudes sem assumir responsabilidade pelas mesmas.
Terapias focadas excessivamente em trabalhar o passado ou buscando causas, tendem a tornar o cliente mais dependente do processo terapeutico e com o sentimento de não estar evoluindo. Isso ocorre pela falta de treinamento em habilidades sociais e emocionais orientadas ao presente e para o futuro, além de que o cliente fica submetido aos vieses do profissional - interpretações ambiguas - e ao risco de memórias falsas.
Exercício Terapêutico: Diário de Reconexão com a Criança Interior
Para integrar essas compreensões, um exercício terapêutico útil baseado em princípios de neurociência pode ser a prática de manter um "Diário de Reconexão com a Criança Interior". Este exercício visa reconectar-se com as memórias e emoções da infância, promovendo a cura e a compreensão.
Criação de um Espaço Seguro: Encontre um lugar tranquilo onde você se sinta seguro e sem interrupções. A tranquilidade é essencial para um processo reflexivo.
Respiração Consciente: Comece com alguns minutos de respiração profunda para acalmar a mente. A respiração consciente ajuda a ativar o sistema parassimpático, promovendo relaxamento e foco.
Recordação Dirigida: Pense em uma memória da sua infância, particularmente uma que evoca emoções fortes. Escreva sobre essa memória detalhadamente, tentando lembrar os sentimentos, sons, cheiros e visuais associados a ela.
Diálogo com a Criança Interior: Imagine que você pode conversar com a versão infantil de si mesmo. O que você diria a essa criança? Como você a confortaria? Escreva esse diálogo em seu diário.
Reflexão e Conscientização: Após o diálogo, reflita sobre como essas memórias e sentimentos da infância podem estar influenciando sua vida adulta. Identifique padrões ou emoções que podem estar ligados a essas experiências.
Plano de Ação: Baseado em suas reflexões, pense em maneiras de abordar essas emoções ou padrões na sua vida atual. Isso pode incluir práticas de autocuidado, buscar apoio terapêutico, ou estabelecer novos hábitos saudáveis.
Rafael Bianco, Psicólogo — CRP: 01/17466
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Isso que ela fez foi uma sessão, muito mal feita, de hipnose. E de fato, ela criou e induziu falsas memórias para justificar algo que não faz sentido, diria até que ela tentou colocar constelação familiar no meio do processo.
Infelizmente o processo todo não teve nada de ciência e provavelmente, nada terapêutico.
Em um processo focado em resgate de memória, tudo será uma grande invenção da nossa mente, o cérebro irá criar trechos e justificativas com base nas emoções e interpretações que temos no momento presente, não existe resgate pleno de memória.
Seu texto me ajudou a conhecer melhor esse mito, embora seja uma metáfora que pode realmente servir de ajuda. Gostei muito de conhecer a origem dessa ideia.
Já fiz uma sessão com uma terapeuta que usou essa regressão da criança interior. Pediu que eu respirasse, fechasse os olhos e dissesse as coisas que eu via e sentia de acordo com as fases da vida que ela pedia que eu descrevesse. Ela disse que eu estava acessando memórias adormecidas. Fiquei na dúvida, pois eu não tinha certeza se eram memórias ou apenas minha mente inventando, mas a terapeuta ( que não era psicóloga, mas terapeuta holística de PNL) tinha certeza que eram memórias. Fiquei pensando: como ela pode saber disso? Ela viveu por mim?
Depois ela afirmou com a mais plena certeza que minha miopia vinha das coisas que eu passei na infância. Nessa hora eu realmente não acreditei. Basicamente ela estava me conduzindo para memórias falsas e dando certezas que ela não podia dar. Por melhor que tenha sido a intenção dela, achei a sessão ruim, pois foi pautada em supostas memórias que nem eu tinha certeza se aconteceram e meu objetivo não era saber nada sobre a origem da minha miopia. 😅