“O vício inerente ao capitalismo é a distribuição desigual de benesses; o do socialismo é a distribuição por igual das misérias.” - Winston Churchill
Todos nós conhecemos alguém que vive na miséria. Não só a miséria de fome, de dinheiro, de oportunidades mas a miséria de comportamentos, pensamentos e atitudes. Por hora, vamos tangenciar os aspectos socioeconômicos e políticos e focar nos pontos comportamentais da miséria. Por isso, vamos estabelecer primeiro a miséria como um estado mental ou mentalidade, outro ponto, chamarei ora de pobreza e ora de miséria.
A miséria é a falta de estímulos, de informações, de repertório. A miséria é a ausência de novas conexões neurais e que fazem a gente viver uma vida automática, sem muitas reflexões, mudanças ou revoluções. Quando damos espaço para a miséria, alimentamos também a submissão e posteriormente a inação diante da vida.
A nossa mentalidade, que são os nossos pensamentos, crenças e maneira como agimos, é moldada em partes pelo ambiente no qual estamos inseridos, pelos estímulos que temos ao nosso redor. Se vivemos em constante infelicidade, insatisfação, estresse ou até ruminação e exposição negativa, estamos dando espaço para que a miséria torne-se um morador em nossa mente. E como parte dos nossos comportamentos surgem dos pensamentos que temos, esses também se tornaram miseráveis.
Se seus comportamentos são dominados pela miséria, sua capacidade de resolver problemas, observar e aproveitar oportunidades ficará fragilizada e com isso, você começará a empobrecer. Perderá capacidade criativa e de geração de riqueza, financeira, emocional e afetiva.
O contágio da miséria
A miséria, como qualquer comportamento e ideia, é contagiante. Ela se espalha lentamente em nossa rotina, nossa visão de mundo, nas pessoas com quem convivemos e na própria sociedade que temos ao redor. Desde a pessoa viciada em páginas de fofoca do instagram até aquela que vive vendo notícias na televisão, ambas vivem uma parte do estado de miséria mental.
O contágio ocorre pela falta de políticas públicas, pelo vício em informações que nada nos agregam, pelo excesso de cuidado da vida alheia (e ausência de autocuidado), pelo sistema político que foca em resolver problemas pouco impactantes ou aquele que diminui o poder de uma moeda, do consumo da sua população. A miséria não nasce sozinha, ela precisa ser criada.
Uma família que vive em situação de pobreza, certamente terá muito mais dificuldades em alcançar o crescimento financeiro e educativo do que aquela que vive em abastecimento constante de dinheiro. Um filho de influenciador que pode viver sempre com o pai, comendo da melhor comida, sempre sairá à frente do filho de outro influenciador que nunca dá atenção ao mesmo. Veja, miséria não é só sobre dinheiro, ela é também sobre afeto. E dinheiro não compra afeto.
Quando o Estado não cria programas eficientes de crescimento, a miséria será propagada por gerações. Uma família que vive na favela, nunca terá a mesma oportunidade, a mesma qualidade de aprendizado e de repertório comportamental do que uma família de classe média ou uma família de milionários que moram em mansões de três andares, condomínio fechado, escola própria e todas as firulas extras que o dinheiro compra.
Da mesma forma que a riqueza se propaga e beneficia os outros, a pobreza torna-se contagiante e afeta todos ao seu redor. Inclusive, uma favela que não se desenvolve é capaz de fazer um bairro nobre tornar-se pobre e miserável. Leva tempo, mas isso de fato já aconteceu na história da humanidade (e do Brasileiro).
A miséria traz consigo o sentimento de desamparo, desesperança e isso nos leva a falta de visão, de habilidades e a nossa inação. Ora, se eu não vejo futuro, por quê farei algo sobre ele? Preciso focar no presente, preciso vender o almoço para comer a janta.
Quando somos constantemente expostos aos sentimentos citados (e outros negativos), perdemos parte da motivação para melhorar a nossa vida. Se crescemos ouvindo profecias de que nada vai mudar, nada vai resolver ou de que devemos esperar um salvador, o sentimento de incapacidade crescerá cada vez mais e com ele, a nossa falta de interesse em buscar novas opções.
Mas e por quê algumas pessoas miseráveis conseguem romper com esse ciclo? Porquê lá dentro delas, o sentimento de esperança, o ódio ao momento de vida, o desejo de crescimento foram e são alimentados, gerando assim motivação (motivos para ação) suficiente para que ela comece a correr atrás de outros caminhos, para que ela não aceite aquela realidade como verdadeira e comece a fazer o próprio sistema, a própria realidade.
No entanto, é importante notar que, assim como a miséria pode ser contagiosa, a esperança e a resiliência também são. Iniciativas que visam quebrar o ciclo da pobreza, como programas de educação e capacitação, acesso a saúde e habitação digna, podem criar um efeito positivo que se espalha pela comunidade.
O empoderamento de indivíduos e comunidades para superar a miséria pode inspirar outros a fazerem o mesmo, criando um ciclo virtuoso de melhoria e progresso.
O comportamento da miséria
Não é de hoje que a psicologia ou ciência comportamental, estuda sobre a relação entre indivíduos e ambiente. Dito isso, a miséria, a riqueza, as políticas públicas, o acesso à informação e tudo mais que você conseguir pensar, são modeladores comportamentais.
A exposição contínua à pobreza, estresse, insatisfação são estímulos que podem nos fazer perpetuar atitudes negativas, levar a crises de ansiedade e quadros depressivos. A isso chamamos de desamparo aprendido, citei anteriormente e como todo bom aprendizado, irei repetir novamente.
A exposição repetida a um estímulo negativo ou adverso, faz com que a gente se sinta incapaz de mudar as coisas. Uma vez que sentimos isso, começamos a agir de forma imediatista e desmotivada. Bem, a única motivação é sobreviver ao invés de efetivamente mudar de vida. Ficamos preso em vieses negativos que ofuscam nossas capacidades de resolução de problemas e pensamento crítico.
Quando nossa tomada de decisão é afetada negativamente, um dos vieses que desenvolvemos é a noção de escassez - a falta de recursos, possibilidades e ações. Ficamos com o foco estreito e perdemos a noção de planejamento.
Sem planos, sem perspectiva e sem organização, só lhe restará viver o momento presente de forma negativa. Chamamos isso de “efeito de foco estreito” ou se preferir em inglês “bandwidth tax” só que neste caso estamos nos referindo somente a escassez financeira mas ela será propagada para outras áreas da vida.
O estresse crônico traz consigo, a dificuldade em regular-se emocionalmente (fazer suas emoções funcionarem em harmonia), aumento na sensibilidade a desenvolver ansiedade e depressão, comprometimento nas nossas capacidades executivas.
Rompimento com a miséria
Existem inúmeros elementos que podem nos ajudar a romper com a miséria e seus traços mentais. Desde estratégias sociais-políticas até comportamentos individuais.
Educação & Capacitação: Aprender idiomas, desenvolver novas competências, fortalecer nossas habilidades, buscar novas fontes de estudos e manter-se em constante aprendizado são fundamentais para rompermos com padrões cognitivos e comportamentais negativos que nos fazem viver na miséria.
Saúde Física & Mental: Investir na própria saúde, física e mental, é fundamental para que você tenha energia e disposição (estado de espirito) para manter o seu desenvolvimento, superar as adversidades e continuar crescendo. Isso inclui, buscar profissionais qualificados, manter rotinas regulares de sono, alimentação, atividade física e não se deixar levar pelos hábitos nocivos.
Vida Social: Avaliar as influências sociais que você sofre, que lhe afetam é fundamental para perceber seus comportamentos e entender determinados padrões. Mentes que andam juntas, tendem a crescer juntas. Mentalidades opostas se estressam devido a diferença de visões e valores.
Gestão Financeira: Saber administrar o seu dinheiro é mais importante do que saber ganhar dinheiro. Você pode ganhar 100 mil reais e ainda assim viver na miséria se não souber gerir a grana. Tire tempo para administrar seu dinheiro, aprender sobre finanças comportamentais (pessoal & empresárial), avaliar seu consumo e gasto financeiro, assim como seus investimentos.
Mentalidade: Analisar como suas crenças estão moldando seus comportamentos e realidade interna é essencial para o seu desenvolvimento. Adotar mentalidades associadas ao crescimento, prosperidade, resolução de problemas e cooperação são essenciais para que você rompa com padrões de miséria.
Programas Sociais: É justo que a gente não dependa do governo para crescer (até porquÊ muitas vezes é ele quem nos ferra) mas saber aproveitar os programas e oportunidades para o nosso crescimento é fundamental para evitarmos gastos desnecessários, desenvolvermos nossa rede apoio e habilidades. Usar a biblioteca publica ou grupos sociais para se desenvovler são ótimas formas de começar a sair do estreitamento mental e aplicar nossa visão de mundo.
Sair da miséria e iniciar um caminho em direção ao enriquecimento é uma jornada longa que requer o desenvolvimento de várias habilidades, algumas individuais e outras coletivas. Olha para o meio no qual estamos inseridos é essencial neste processo, por isso grupos de “mastermind”, “estudo coletivo” e outros são fundamentais pro processo. Busque o seu grupo, busque a sua rede e mantenha-se confiante do seu processo.
Rafael Bianco, Psicólogo — CRP: 01/17466
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